Jornal NH

29.06.1984

Alceu Feijó

Certo dia, Juliana fez uma bolha de sabão, que saiu mundo afora.
Era linda, muito colorida e brilhante.Ela passou por uma árvore, que falou:
-Venha enfeitar minha copa, linda bolha de sabão!
-Não posso, porque se alguma coisa enconstar em mim eu me desmancho!
-Mas que bolha vaidosa!
Passou também por uma nuvem, que pediu:
-Venha me acompanhar linda bolha de sabão! Eu te darei muito conforto!
-Não posso, se alguma coisa me tocar eu me desmancho!
-Mas que bolha vaidosa!
Passou também por um pássaro, que disse:
-Venha enfeitar minhas penas, ó linda borboleta!
-Seu pássaro, me desculpe, mas eu não posso encostar em nada, senão eu me desmancho!
-Mas que bolha vaidosa!
E assim foi, até que ela estourou. Bum !!! E só sobrou uma gota d’água minúscula, que foi caindo lentamente, até chegar ao chão, e cair sobre uma pequena sementinha de orquídea.
E a pequena flor cresceu e ficou linda e colorida como a pequena bolha de sabão!
Então Juliana chegou no quintal e disse:
-Mamãe, veja que linda flor, parece a bolha de sabão que fiz, há semanas atrás. Não é maravilhosa?
E a mamãe disse:
-Exatamente minha filha, é muito linda!
Bem, aí terminou a história que a Sílvia, minha neta mais velha, escreveu na aula da professora Hildegard e ganhou nota 9.
Se a estou reproduzindo não é por “vorujisse”( é vorujisse mesmo), mas porque desde que o Lauro escreveu de suas dificuldades em contar histórias para os netos eu tenho procurado uma maneira de socorrer o negrão em seus apertos netianos (hoje é dia de inventar palavras, o que também é uma maneira de entreter os netos, viu Lauro?) e a redação da Sílvia me fez recomendar ao Lauro que volta e meia procure ler os escritos dos netos para ver como vai encontrar notáveis joías de sensibilidade, de meiguice dos netos, que com esforço mental permite espichar a história até pegarem no sono. Claro, o vô e os netos.
Tem maneira melhor do que pegar no sono com um ou dois netos nos braços? Tem Lauro? Melhor do que pegar no sono com os netos, talvez somente o Lelo com os filhos enrrodilhados no pescoço, pernas e tronco!
Do outro lado do horizonte, outra neta é especialista em escrever bilhetes, nos seus garatujos iniciais.Quando estive em Uruguaiana visitando a Cláudia ea Ângela, quando acordava pela manhã, o quarto estava cheio de bilhetes colocados carinhosamente por baixo da porta.
“Vô, tu ainda tem chocolate?” Ou então: “Vô, quando tu acordar me acorda.” Ou: “A Ângela tá fazendo barulho.” Ou ainda: “Tô esperando prá ir na piscina.”
Pois é Lauro, veja como são as coisas: falando dos teus netos e revendo a cena do teu carinho com os teus, passei alguns momentos longe de tudo que nos atormenta a vida, vivendo o mundo encantado dos netos. Um mundo que é uma constante Disneylândia. Permanecer nele, mesmo por alguns momentos, é o melhor remédio para o avô. Não achas?