Jornal NH

23 de março de 1961.

Por Jota Feio

Naquela manhã ameaçando chuva e com as ruas da cidade regorgitando de gente como ocorre em todas as manhãs de sábado, o garoto saiu correndo daquela porta ali ao lado da casa Nonô e pela primeira vez se ouviu na Cidade Industrial, um jornaleiro anunciando o novo órgão de imprensa: “OLA O NIAGA”.

Semanalmente sai o NH como um jornaleiro entre o povo, a percorrer as cidades do Brasil inteiro, levando a milhares de pessoas um pouco da nossa cidade, de nossas virtudes, nossos defeitos, na impressão bonita, no estilo vibrante, na orientação independente do nosso jornal.

Então o Brasil se torna pequeno. Lá nos confins do Amazonas, o seringueiro ao desembrulhar o pão para seu café, irá deparar com as notícias de Novo Hamburgo, que ele nem sabe onde fica. Sabendo ler irá constatar que é uma cidade de progresso e trabalho. Se for analfabeto terá sua atenção despertada pelo colorido da impressão e pelas fotografias. Mas de qualquer forma, ficou sabendo que Novo Hamburgo existe.

Ali onde o Rio Grande do sul termina de repente na barranca do Rio Uruguai, o gaúcho da fronteira ao desempacotar a erva para o mate a sombra da figueira, terá sua atenção despertada pelo jornal que o bodegueiro embrulhou a erva, é quando ele ficará sabendo onde são fabricadas as botas que ele usa nas lides do campo.

Enquanto a elegante madame aguarda que a balconista embrulhe o seu calçado, uma loja na avenida São João em São Paulo, distrai-se folheando um jornal esquecido pelo dono da loja, ao lado da caixa registradora. Ali, na última página por casualidade está estampado o clichê do finíssimo sapato que adquiriu a poucos momentos. Curiosa ela foleia o resto do jornal.

Coberto de poeira e o cansaço das estradas estampado na fisionomia, o viajante mal termina de saudar o lojista, vai perguntando: “já recebeu o NH?”  É um momento de emoção para o vendedor que há muitos dias está longe de sua cidade, de sua família, quando encontra quilômetros de distância, as notícias mais recentes de sua cidade. Ali estão as brincadeiras do Fiptor, as brigas dos vereadores, os assuntos sérios do Lauro, as sociais da Astrid, as matérias da redação fazendo-o reviver por instantes a vida de sua cidade.

Quando a secretária coloca sobre a escrivaninha do importante homem de negócios, estabelecido na Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro, a correspondência do dia, o modesto NH estará entre as cartas importantes onde se trata de grandes negócios; entre os extratos bancários cujas cifras atestam o volume de negócios do magnata. Seus olhos acostumados e cansados de tanto lerem números e mais números, hão de exigir uma pausa, um descanso, quando depararem com a bonita feitura do jornaleco daqui da Cidade Industrial.

Ao completar o seu primeiro aniversário, o Brasil inteiro estará em torno da mesa do aniversariante, estendendo suas congratulações aos diretores. A velinha isolada no centro do bolo crescerá e sua luz bruxoleante se transformará num farol potente a iluminar, sempre de onde estiver, o progresso da Cidade Industrial, cujo povo agradecido, estará cantando mentalmente o PARABÉNS A VOCÊ.