Jornal NH,

30 de junho de 1995.

Alceu Feijó

Meu destino era o Café Avenida, no horário costumeiro das 18h30min. Quando passava pela relojoaria Korndorfer, estava a Cleire descendo a grade da porta, como faz desde os tempos de seu namoro com o Laranjinha. Num momento destes, envolvendo pessoas queridas com fatos inesquecíveis, fica difícil para uma pessoa de idade fugir à nostalgia.

O gesto da Cleire baixando a grade da loja foi como um gesto mágico que trouxe à realidade um tempo que passou. Ali estava ao meu lado o Laranjinha, o Vinícius, o Oniram, o Veroni, o Lauro Diogo, Luiz Moura, Mário Gusmão, Lelo, Pedro Santos, Júlio Gard, Gerson, O Burslaff nosso dentista honorário, financista (quebra galho) amigo e conselheiro.

O trajeto até o Café Avenida foi na companhia destes amigos. Uma confraria que comandava o noticiário local e estadual nos jornais NH e Folha da Tarde, para os quais trabalhávamos, numa convivência sadia, honesta e inédita. Alguns destes amigos relembrados pelo gesto da Cleire baixando a grade da Korndorfer já foram, outros continuam entre nós, uns mais afastados, outros chegados, comandados pela inefável lei da vida.

Foram momentos de felicidade, sem traumas nem pesares. Para os que já m

orreram ficou a saudade e o reconhecimento pelo dever cumprido diante de uma sociedade exigente. Para os que continuam vivos, a certeza de que a saudade da convivência sempre será renovada até por um simples gesto de uma pessoa baixando uma grade.

Um dia antes destes acontecimentos temporais, estive participando da missa de um ano de falecimento do amigo e colega Oniram Rodrigues Alves, em São Leopoldo. Oniram, Laranjinha e Lauro foram companheiros de muitas reportagens e muitas histórias pessoais não publicadas em nossos jornais, mas marcadas em nossas vidas.

Oniram, o mais talentoso de todos nós, foi lembrado durante a celebração da missa na bela Igreja Matriz de São Leopoldo. De onde eu estava eu vislumbrava o perfil da Cleide e da Gláucia, esposa e filha do Oniram, sua preocupação máxima nos últimos anos.

Por instantes saí da igreja com o Oniram e fomos percorrer a Rua Grande, lembrando os pontos capitais dos capilés. O que falamos e comentamos até retornarmos à igreja para participar do final da missa, é coisa nossa. Mas deu prá sentir que Oniram está feliz. Com saudade mas feliz, como estão o Lauro e o Laranjinha.