JORNAL NH
1984
Alceu Feijó
O sr. Tancredo Neves foi à Europa para descansar, mas está realizando uma maratona de presidente já empossado, só que sem guardas e sem mordomias, pois sabe-se que viaja por conta e risco. Sua saúde e disposição só é comparável com o Tio Tupy, que com 84 anos, 21 bisnetos, dois tataranetos, goza de uma saúde invejável. Tanto o sr. Tancredo como o meu tio Tupy levam uma grande vantagem sobre a d. Risoleta, pois em suas faces não se nota uma ruga sequer e nem os sinais trágicos de operações plásticas, como ocorre com a nossa próxima primeira dama, cuja orelha direita começa onde começa o maxilar, além de ser sempre a primeira nas fotografias, coisa que não acontece com a Tia Ondina, esposa do tio Tupy, que em sua serenidade e felicidade ao lado do esposo, que, segundo as lendas, nunca foi muito Tancredo, mas com o tempo conquistou crédito suficiente para viverem felizes, como dizia Tia Ondina com tantos netos e bisnetos jamais teria tempo ou temperamento para uma operação plástica que, além de tudo, iria roubas de suas faces o traço da bondade, da perseverança e até a suave marca deixadas pelos entes queridos que já se foram.
Tancredo, se é bem verdade que não prometeu muitas mudanças, promete dar “duro” no presidente americano, oferecendo-lhe o cachimbo da paz como fumo “colomy”, coisa que meu Tio tupy não faria, porque há muito tempo descobriu que fumo e política não fazem bem à saúde. Por isso ainda jovem, largou a farda de tenente do corpo provisório do qual seu irmão Darcy era coronel e foi morar longe dos grandes homens e dos grandes acontecimentos. O irmão continuou coronel e morreu num comício político. O sr. Tancredo para viver tanto tempo na política e gozar de tanta energia, não deve ter levado muito a sério sua carreira. Já a d. Risoleta começou a mil fotos por hora. A tia Ondina, há muito tempo deixou de contar fotos para catalogar os filhos, netos, bisnetos e tataranetos, compondo sua família uma verdadeira representação política brasileira. Pois deve ter filhos, netos e bisnetos gerados, nascidos e criados em todos os regimes políticos implantados neste país como medida salvadora. De Getúlio para cá é certo que Tia Ondina tem um filho ou neto para confirmar sua posição de matriarca nacional.
O Tio Tupy, como já referi, abandonou a farda e a politica por coisas mais estáveis, tem dez anos mais que o Tancredo e vinte de anergia, também tem dificuldades para enumerar todos os netos e bisnetos pelo nome próprio, como o Tancredo terá para escolher todos os seus ministros e os outros afilhados esperando do presidente um lugar ao sol, com a diferença que o Tio Tupy, com um grito só, faz com que sua clã marche unida e de passo certo, enquanto que o sr. Tancredo, que ameaça dar “duro no Reagan”, o mais que conseguirá nos próximos anos será uma advertência doméstica: -Risoleta, acho que tá na hora de baixar a bola.
Mas a diferença entre os meus personagens é que daqui a quatro ou cinco anos os meus tios continuarão vivendo na sua tranquilidade de Arroio Teixeira, vendo os netos crescerem, os bisnetos se multiplicarem e os tataranetos casarem num ritmo suave de vida com as adaptações normais da época, enquanto o Sr. Tancredo estará pedindo para terminar o seu mandato “tampão”, só porque não soube tirar a farda de tenente na hora certa.
Felicidades Sr. Tancredo, que a “risoleta” da sorte lhe seja favorável. Felicidade tio Tupy, o senhor encontrou a Ondina da felicidade.