JORNAL NH

Alceu Feijó

O Natal de 41, foi o primeiro que passei em Hamburgo Velho, como novo morador do pequeno feudo formado pelos Kunz, Schmit, Lanzer, Cassel, Lux, Thoen, Lichtler, Pochetzki, Rhoden, Geib, Kaiser, Wolf, Scheffel, Weber, Both, Steigleder e tantos outros nomes tradicionais. Era uma pequena praça de guerra nos domingos de futebol e tranquilidade nos dias de semana.

Mas naquele primeiro Natal, meninão procurava fazer amizades novas com os jovens loiros, sotaque diferente e costumes mais diferentes daqueles conhecidos lá nos campos de cima da serra. O local de encontro era o bar dos Becker ou a sombra dos cinamomos a entrada do beco, perto da casa dos Cassel. Ali, tomei pela primeira vez o spritzbier com chimarrão, doces de natal e rapadura, oferecidos pela loirinha de tranças, filha do alfaiate. Não é necessário dizer que a mistura estranha ao meu estômago provocou uma tremenda dor de barriga que durou alguns dias. A dor de barriga passou, mas a loirinha de tranças se tornou uma simpática senhora de cabelos grisalhos e avó das minhas quatro netinhas e só eu e ela e o povo sabemos a história de cada fio de cabelo brancos que ela ostenta com toda a grandeza de sua alma pacienciosa.

Segunda feira última, quando participava da festa promovida pelo Scheffel, para comemorar a restauração de Hamburgo Velho, de repente notei que o local onde se festejava o evento, era o mesmo onde tive a primeira namorada em Hamburgo Velho.

Ali estavam os cinamomos, os Kaiser, os Kunz, os Lanzer, os Lichtler, os Geib, o Pastor Pommer, todos fiéis ao seu pequeno feudo, revivido pelo poeta do pincel, aglutinados pelo empenho do filho mais famoso.

Hamburgo Velho voltou a sorrir na beleza interminável da Asta Schmit, na verbosidade do Waldemar Geib, na filosofia do Oscar Kunz, na oicardia do Caneco, na tranquilidade do padeiro Kaiser, na euforia dos jovens de hoje, motivados pelo gesto simples de reviver a magia do passado. Um passado que pertenceu aos mais idosos, aqueles que ainda ouvem o Olá! Olá! do sr. Hoffmann ecoando pelas ruas de Hamburgo Velho, que pertenceu àqueles que ainda esperam pelo ônibus da Empresa Andorinha, levantando poeira e levando os namorados para o cinema em Novo Hamburgo. Um passado daqueles que ainda lembram a figura es

guia e simpática do Cavaco, de balaio no braço entregando as compras a domicílio. Um passado daqueles que ainda lembram o padeiro Maedke tocando o seu rebanho de vacas, comodamente sentado em seu automóvel. Um passado que pertenceu aos bailes da Ginástica, à espera do trem na pequena estação logo abaixo da casa dos Presser. Um passado que ainda está vivo na lembrança de todos aqueles que estiveram presentes na festa do Scheffel, porque Hamburgo Velho quase não mudou é um recanto que ainda dá para se recordar das coisas que aconteceram num Natal de 1941.