JORNAL NH

Algumas árvores já apresentam sinais da primavera que está se aproximando esquivamente entre dias chuvosos, quentes, frios e ensolarados. É como se ela estivesse temendo a poluição que anda grassando por aí. Temendo as tempestades emocionais que convulsionam a humanidade, cada vez se entendendo menos e cada vez realizando congressos para debaterem os grandes problemas do mundo. E é justificado este temos mostrado pela primavera, pois ela é a estação do ano mais delicada, mais frágil e meiga e carrega como responsabilidade maior, embelezar o mundo, florir as florestas devastadas pelo homem, despertar o instinto de procriação entre as aves, insetos e alguns animais que não estão sob o controle do homem.

A primavera é o aniversário do universo onde as flores naturais conquistam, embora efemeramente, o direito de perfumarem os campos, os jardins, proporcionam às abelhas a matéria prima para suas colmeias. 

Foi pensando na primavera que procurei encontrar uma flor que verdadeiramente representasse todo o seu sentido, todos os seus valores, depois de fazer desfilar pela minha imaginação algumas dezenas de flores não são muitas porque não sou muito entendido no assunto, me fixei na margarida como símbolo de primavera. Sua própria origem silvestre, brotando nos mais extravagantes locais ou até mesmo nos mais modestos jardins, traz na singeleza de suas múltiplas pétalas brancas o sinal da pureza imaculada.

O jogo do amor proporcionado pelo mal-me-quer, bem-me-quer é, talvez, o mais antigo pretexto para casais tímidos estabelecerem uma aproximação mais íntima. Perfume suave, caule esguio e elegante só vai sucumbir com as primeiras geadas, pois é flor para embelezar e pactuar com a estação do amor.

Se eu fosse de dar flores, a margarida seria, sem dúvida, a preferida para as minhas homenagens de amor, amizade, carinho e respeito.

Mas como nos contos de fadas, a margarida possui uma grande inimiga. Flor arrogante, agressiva, egoísta, artificial, ferina que nem sempre é portadora de uma mensagem sincera. Cultivada artificialmente o ano inteiro, objeto de exportação que tem na própria cor e no perfume o estigma da tragédia, que para se tornar meiga é premeditadamente despida dos espinhos.

Todos os grandes dramas de amor, as grandes tragédias passionais, foram precedidas de uma rosa, a bruxa malvada que não suporta a delicadeza da margarida, a fadinha dos campos. Quem oferece rosas deseja. Quem oferece margarida quer. Esta é a diferença entre a flor maldita e a meiga.

Para aqueles que notaram a nossa ausência sexta-feira passada, oferecemos uma margarida. Aos outros, uma rosa…